4ª Edição

Centro Materno Infantil do Norte vai investigar a eficácia do ecógrafo de bolso no diagnóstico da pneumonia para reduzir a utilização de antibióticos

O Prémio MSD Investigação em Saúde 2022 foi entregue ao projeto “Acuidade diagnóstica da ecografia digital pulmonar de bolso para definição etiológica e vigilância de complicações de pneumonia em crianças internadas”, um trabalho desenvolvido pelo Centro Materno Infantil do Norte, do Centro Hospitalar Universitário do Porto. O estudo vencedor desta 4ª edição visa testar a utilização de uma tecnologia inovadora numa das causas mais prevalentes de internamento em idade pediátrica: a pneumonia.

Tradicionalmente, o pulmão não era considerado um alvo para a ecografia devido à incapacidade de penetrar estruturas anatómicas cheias de gás. No entanto, com o avançar do conhecimento, a equipa percebeu que este exame pode ser muito útil, não só na avaliação das complicações da pneumonia, como também no estudo do próprio tecido pulmonar.

Assim sendo, através da investigação, a equipa representada pela Dr.ª Sara Monteiro, do Centro Materno Infantil do Norte, pretende estudar a utilização e eficácia da ecografia pulmonar de bolso no diagnóstico de pneumonia, reduzindo a utilização indevida de antibióticos.

Este é um pequeno dispositivo, que pode ser transportado no bolso da bata do médico, fornecendo assim um maior conforto e tranquilidade à criança. Através da transmissão Bluetooth para smartphone/tablet, permite a visualização do pulmão em tempo real, economizando tempo e permitindo um diagnóstico e tratamento mais céleres.

Apesar da evidência da utilidade da ecografia no diagnóstico da pneumonia, a utilização primária, sobretudo do ecógrafo de bolso, ainda não faz parte da prática clínica pediátrica. Por esse motivo, a equipa do Centro Materno Infantil do Norte pretende dar formação, disseminar e tornar esta técnica acessível a todos os Serviços de Pediatria, implementando-a de forma consistente em todo o país.

O grande vencedor da 4.ª edição do Prémio MSD Investigação em Saúde foi revelado durante a Conferência Leading Innovation, Changing Lives, que decorreu no passado dia 5 de novembro. O protocolo recebeu um prémio no valor de 10 mil euros para apoiar a implementação desta nova técnica de diagnóstico.

Nesta cerimónia, o júri atribuiu ainda duas Menções Honrosas aos seguintes protocolos de investigação:

“Myco4HP – Exposição antigénica ambiental em doentes com Pneumonite de Hipersensibilidade”, da equipa representada pelo Dr. David Coelho, do Centro Hospitalar e Universitário de São João;

“Utilização do polimorfismo HLA-DQA1*05 como preditor do desenvolvimento de anticorpos anti-infliximab em doentes com doença inflamatória intestinal: um passo na medicina personalizada”, da equipa representada pela Dra. Joana Revés, do Hospital Beatriz Ângelo e Faculdade de Medicina de Lisboa;

O Prémio MSD Investigação em Saúde foi criado em 2019 com o objetivo de reconhecer o esforço e a dedicação que as equipas médico-científicas aplicam no planeamento e desenvolvimento dos seus projetos de investigação, apoiando a sua implementação em prol de um melhor cuidado prestado aos doentes.

Mais informação sobre os projetos:

“Myco4HP – Exposição antigénica ambiental em doentes com Pneumonite de Hipersensibilidade”

A Pneumonite de Hipersensibilidade é uma doença pulmonar difusa, caracterizada por inflamação pulmonar e, em alguns casos, desenvolvimento de fibrose pulmonar. Os sintomas da doença variam desde tosse, falta de ar até à incapacidade de executar as tarefas diárias, podendo ser necessárias terapêuticas imunossupressoras, anti-fibróticos, nos casos de doença progressiva, ou até transplante pulmonar, em casos selecionados.

Esta doença caracteriza-se pela existência de uma resposta imunológica exagerada por parte do organismo à presença de antigénios aos quais o individuo é suscetível – desde componentes orgânicos a inorgânicos. A identificação do agente causador de doença associa-se a melhor sobrevivência dos doentes e permite instituir medidas de evicção.

O Myco4HP tem como objetivo avaliar a exposição ambiental no domicílio dos doentes com Pneumonite de Hipersensibilidade, com colheita e posterior quantificação das espécies fúngicas às quais o doente está exposto. O reconhecimento dos padrões de resposta imunológica à presença dos fungos, realizando estimulações de células imunitárias dos doentes (linfócitos) em laboratório, permitirá melhorar o diagnóstico, diminuindo a necessidade de exames mais invasivos como biópsias pulmonares. A possibilidade de diminuir ou cessar a exposição ao agente causador de doença tem importantes benefícios, desde melhoria de sintomas, sobrevivência até à resolução completa da doença.

“Utilização do polimorfismo HLA-DQA1*05 como preditor do desenvolvimento de anticorpos anti-infliximab em doentes com doença inflamatória intestinal: um passo na medicina personalizada”

A Doença de Crohn (DC) e a Colite Ulcerosa (CU) são doenças inflamatórias do intestino (DII), com uma prevalência crescente e que se encontram associadas a significativas complicações, com um impacto negativo na qualidade de vida dos doentes.

A introdução de fármacos anti-TNFα na prática clínica permitiu um avanço considerável no tratamento da DII, possibilitando o atingimento de remissão clínica duradoura num subgrupo de doentes e diminuição das taxas de cirurgia e hospitalização. Apesar de já existirem novos fármacos para o tratamento da DII, os anti-TNFα continuam a ser fármacos com elevada eficácia, baixo custo e com experiência de vários anos de utilização e, portanto, continuam a ser muito utilizados no tratamento dos doentes com DII. No entanto, uma das principais desvantagens deste grupo de fármacos é a perda de resposta, que pode atingir cerca de 40% ao fim de 1 ano de tratamento. Uma estratégia para diminuir o desenvolvimento de anticorpos anti-TNFα é, além da administração periódica do fármaco, a associação de um imunomodulador, mas não é isenta de riscos.

O “PANTS” foi um estudo prospetivo observacional que, através da utilização de amostras de sangue, demonstrou que os portadores de um biomarcador genético – polimorfismo HLA-DQA1*05 – parecem apresentar um risco 2x superior de desenvolver anticorpos anti-TNFα. Contudo, o real impacto deste polimorfismo na prática clínica e no algoritmo terapêutico dos doentes com DII ainda não foi avaliado, bem como a sua relação com outros fatores de risco associados à perda de resposta aos anti-TNFα.

Assim, o objetivo principal deste projeto é estudar a associação do polimorfismo HLA-DQA1*05 com o desenvolvimento de anticorpos anti-Infliximab (AAI) numa população portuguesa de doentes com DII e, secundariamente, avaliar a relação deste polimorfismo com outros fatores de risco no desenvolvimento de AAI e com os níveis séricos do fármaco ao longo do tempo. Desta forma, poderá contribuir com evidencia para a personalização da terapêutica com anti-TNFα em doentes com DII, em particular na necessidade de adição de imunomodulador ou, em caso de contraindicação ou intolerância a este fármaco, na seleção de outras linhas terapêuticas.

PT-NON-02140 11/2022